Terrorista de Iphone
“O Brasil não é para cinéfilos”, nunca disse Tom Jobim; mas poderia ter dito. Fui ao cinema em um domingo, dia de cinema, pode-se argumentar. Não no Brasil. Entrei na sala escura e silenciei o celular, conforme manda o protocolo. Não no Brasil. Ir ao cinema e manter-se politicamente atualizado são atividades incompatíveis neste país. Quando entrei na sala falávamos sobre o fracasso da nova novela da Globo, quando saí o assunto era o Capitólio caipira, a vandalização do Congresso, STF e Planalto por terroristas.
Uma hora e meia sem ler o jornal no Brasil, atitude inescusável. Não importa se é domingo ou segunda, o Brasil não é para cinéfilos, mas os terroristas de Iphone prosperam em nossas terras.
Terroristas de Iphone, já pode falar assim? Sejamos justos, se esquerdista não poder ter Iphone, terrorista também não deveria poder. No tempo de minha avó, os terroristas mantinham-se no anonimato ao menos no nível individual, hoje não, hoje os terroristas de Iphone registram com orgulho a própria incivilidade. O celular foi importado, e a ideia de invasão dos prédios públicos também. Claro, a extrema-direita brasileira carece de qualquer originalidade. Raciocínios, ações, palavras de ordem e celulares, todos importados dos Estados Unidos.
Os impatrioras não conseguem sequer protagonizar um terrorismo propriamente brasileiro. A esquerda pelo menos consegue protestar de forma patriota, nunca vi sarau ou ciranda de protesto nos Estados Unidos. Já os impatriotas da extrema-direita não são autênticos nem no ato terrorista e nem na produção audiovisual. Se fossem patriotas de verdade, haveriam de registrar a própria barbárie com uma Tekpix que, ao menos é brasileira e se aproxima de Bolsonaro, porque sai caro e não tem qualidade alguma. Mas não… eles não são brasileiros em nada.
Terrorista de Tekpix não, terrorista de Iphone mesmo. Destruíram quadros de Portinari e Di Cavalcanti, quebraram vitral de Marianne Peretti e roubaram – pasmem – Iphones e Macbooks. Os terroristas de Iphone importam dos trumpistas e também do Talibã. Não são patriotas em nada. São uma amálgama da escória mundial.
O terrorista de Iphone é o pseudo-revolucionário que destrói patrimônio cultural e rouba Macbooks. Está aí um lampejo de originalidade na imbecilidade do bolsonarismo. De resto, carecem de criatividade, apenas reproduzem o que ocorre no exterior, como bom impatriotas que são.
São pavorosas as atrocidades cometidas pelo bolsonarismo, tão pavorosas que nem eles parecem estar satisfeitos, dizem que é coisa de infiltrados. O bolsonarismo, ao se olhar no espelho, parece não gostar do que vê. Sofrem de uma espécie de síndrome de Dorian Gray.
O personagem de Oscar Wilde não suporta olhar para o próprio retrato, pois em sua imagem está registrada todas as atrocidades que cometeu. Assim, termina por esfaquear o próprio retrato e, consequentemente, a si mesmo. Talvez seja esse o fim merecido do bolsonarismo, ao esfaquearam Di Cavalcanti, terminaram por cometer suicídio.
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