O legado do trumpismo e a democracia nos EUA
Dois dos pressupostos básicos de uma democracia, talvez os mais básicos, são a transição pacífica do poder e a existência de uma próxima eleição. Em uma democracia, os perdedores reconhecem a derrota porque sabem que haverá uma próxima oportunidade de chegar ao poder.
O nível de violência que antecedeu e que se seguiu após as eleições presidenciais nos EUA é resultado de um discurso fatalista vocalizado pelo ex-presidente Donald Trump. Segundo esse discurso, se os democratas chegassem ao poder, os Estados Unidos e os valores “verdadeiramente americanos” seriam destruídos. No discurso de Trump, perder a eleição não era uma opção pois, caso isso ocorresse, essa seria a última eleição.
O cientista político búlgaro, Ivan Krastev, em uma entrevista recente, explicou que uma democracia não funciona para alguém que pensa estar de alguma forma fadado. Em uma democracia, todos os partidos precisam acreditar que o futuro pertence a eles, que a próxima eleição pertence a eles. Ser sombrio, segundo Krastev, pode ajudar um candidato a ganhar uma eleição, mas não duas.
O fatalismo de Trump não apenas o fez perder a reeleição, mas mergulhou os Estados Unidos em um caos cujo melhor retrato é o acontecimento do dia 6 de janeiro, quando radicais apoiadores de Trump invadiram e vandalizaram a sede do legislativo americano.
Segundo uma pesquisa de opinião realizada pela YouGov, 45% dos eleitores republicanos entrevistados apoiam a violência perpetrada pelos extremistas, enquanto 43% discordam do ato. Nem Trump e nem o trumpismo desapareceram com a posse de Joe Biden e Kamala Harris.
O futuro da democracia estadunidense depende não somente do governo de Joe Biden, mas do Partido Republicano que precisa escolher que tipo de partido vai querer ser daqui para frente. Um partido convervador democrático, aos moldes do senador pelo estado do Utah, Mitt Romney, ou um partido radical, espelho da ideologia trumpista.