Eleições nos Estados Unidos: quando perde quem tem mais votos
As eleições para presidente dos Estados Unidos se aproximam, o célebre November 3th, data na qual a cada quatro anos os cidadãos americanos escolhem seu próximo governante, ocorrerá, neste ano, em meio a uma situação extraordinária. Em primeiro lugar, tem-se uma crise de saúde pública que continua a avançar descontroladamente pelo território americano. Mas não somente, está em jogo também um possível segundo mandato de um presidente que, mesmo após eleito, continuou a demonstrar um total desprezo pelas normas que sustentam o sistema democrático em seu país.
No entanto, o que muitos não sabem é que, no dia 3 de Novembro, data definida pela Constituição dos Estados Unidos, os cidadãos americanos não saem às ruas exatamente para escolher seu próximo presidente. Eles saem às ruas para definir quais delegados escolherão o próximo ocupante da Casa Branca.
O colégio eleitoral americano
O sistema político americano é bastante peculiar, não existe nenhuma outra democracia no mundo que opera da mesma maneira e, grande parte dessa singularidade, deve-se à existência do colégio eleitoral. O colégio eleitoral americano é composto por 538 delegados e cada estado possui um número de delegados proporcional a sua população. Os cidadãos americanos, por sua vez, durante o período eleitoral, escolhem entre uma lista de delegados formada por Republicanos e outra lista formada por Democratas, são esses “escolhidos” que determinarão quem será o próximo presidente do país.
É como se ocorressem 50 eleições presidenciais simultaneamente – número de estados que juntos constituem os Estados Unidos da América. O colégio eleitoral é resultado de um compromisso com o federalismo, sistema no qual os estados possuem maior autonomia e força política frente a união. No entanto, ele produz discrepâncias significativas no que se refere a vontade da maioria. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton foi eleita pelo voto popular, mas Donald Trump ganhou os votos que realmente importam, isto é, os votos do colégio eleitoral.
Essa divergência foi possível porque Trump ganhou por margens apertadas em alguns estados importantes como Wisconsin, Michigan, Flórida e Pensilvânia. Contudo, o candidato que vence por uma diferença pequena no voto popular a nível estadual obtém todos os votos desses estados no colégio eleitoral, uma vez que não prevalece uma regra de proporcionalidade.
Quando alguns votos importam mais do que outros
Na “terra do tio Sam”, não são todos os votos importam, ao menos não na mesma medida. Alguns estados, como Califórnia e Nova York, por exemplo, são historicamente Democratas; enquanto outros como Utah ou Alabama, votam sistematicamente nos Republicanos. Nesse sentido, candidatos à presidência da República não precisam investir em grandes campanhas nessas localidades, afinal, os resultados ali já são conhecidos mesmo antes das eleições.
Os aspirantes a inquilinos da Casa Branca precisam conquistar os votos nos chamados swing-states, ou estados pêndulos, onde às vezes são os Republicanos que saem vitoriosos; enquanto, outras vezes, são os Democratas. São nesses Estados que as campanhas adquirem agressividade. É ali que o jogo eleitoral importa.
Nesse contexto, pouco surpreende que nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, as taxas de comparecimento às urnas sejam baixíssimas. Ir às urnas em um dia de semana – neste ano, a eleição acontecerá em uma terça-feira – mesmo sabendo que, dependendo do estado onde o eleitor reside, seu voto não fará diferença alguma, é uma tarefa que demanda admirável disposição democrática. É verdade, o federalismo permitiu a fundação dos Estados Unidos, e é importante que esse compromisso seja constantemente reafirmado, mas, se alienar um grande parcela dos eleitores no século XVIII fazia algum sentido, no século XXI, já não faz.