Crônica: Eu perdi o senso de humor
Vocês devem estar se perguntando porque parei de escrever crônicas. Não?… Foi o que imaginei.
A verdade é que eu perdi o senso de humor. Aconteceu assim, meio que do nada. Tudo bem, estávamos no meio de uma pandemia, eu havia ficado dez dias isolada em um quarto minúsculo, me recusava a tomar remédios e não conseguia me exercitar. Mas ainda assim, não sei bem como isso foi me acontecer. Um verdadeiro mistério.
Ahhhhh, estão vendo? Esta crônica aqui era para ser engraçada, mas, mais uma vez, já adquiriu um teor depressivo.
Eu sei, eu sei. Supostamente existe humor na tragédia. Mas não na minha. A minha tragédia não é engraçada. Ao menos não para mim. Será que eu sou arrogante demais para rir de mim mesma? Séria demais? Exigente demais? Olha bem, como a coisa já foi perdendo a graça. Parece mais uma sessão de psicanálise do que uma crônica – potencialmente – humorística.
Mas foi assim mesmo, um dia eu era engraçada, pelo menos é o que eu dizia a mim mesma. No outro dia, nem tanto. Sério, eu cheguei a escrever uma crônica chamada “Ano novo, vida velha”. Além do título extremamente clichê, a crônica era carregada de queixas e lamentações. E com um agravante: queixas e lamentações de uma mulher branca, privilegiada e de classe média. Não que não possamos ter queixas e lamentações, é claro que sim, mas sei lá, tendo em vista o atual momento perturbador que vivemos em nosso país, a crônica me soou meio sem causa. O que é basicamente um requisito para qualquer crônica, mas pouco importa, não gostei. O que também não quer dizer que esta aqui vai estar carregada de motivações sociais, ok? Na verdade, ela foi bem movida pelo ego. Minha crônica, minhas regras.
Mas voltemos à minha perda de humor. Depois da péssima crônica sobre o ano novo, escrevi uma outra cujo o nome era “É uma pena não ser gênio”. E é mesmo. Apesar do título promissor (em minha humilde opinião), a crônica ficou vergonhosa, o que apenas comprovou a afirmativa inicial: é uma pena não ser gênio.
Foi então que decidi, por meio desta crônica, implorar por alguns risos, nem que seja aquele riso de canto da boca, coberto de piedade. Aquele de quando alguém leva um tombo em público e você começa a rir, mas depois descobre que a pessoa se machucou e continua rindo mesmo assim, não porque você é um sádico sem noção, mas porque é um riso de nervoso que você espera que os outros entendam, mas ninguém entende, porque talvez você seja mesmo um sádico sem noção. Sabe de qual eu tô falando?
Então, esse riso me basta. Eu não quero perder meu senso de humor assim, tão de repente. Ainda que em meio a uma pandemia, tomando remédios e agora com os dedos quebrados depois de chutar o pé do cama. Perder o emprego ainda vai (inclusive, foi), mas a piada? E não uma única piada, mas todas as piadas que poderiam ter sido e que não foram, que poderiam ser e não serão. Estão vendo? Até aqui, falando sobre piadas perdidas, eu consigo soar depressiva.
Não é justo. Logo eu, tão engraçada. Ainda que muitos não achassem, é que as piadas precisam ser ouvidas no tom correto. A graça muitas vezes não está no conteúdo, mas sim na entonação. Então eu sinto muito, mas deixo tudo em suas mãos. Se você não achou graça nesta crônica, é porque provavelmente leu ela inteira no tom errado. Tenta ler ela de novo, em dó (brincadeiras à parte) maior (é sério, não foi a intenção).
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