Linkedin

Alguém desinventa o Linkedin

Eu não gosto do Linkedin. Não, pera, eu odeio o Linkedin. Na minha opinião, o Linkedin é a rede social mais pedante de todas. Uma grande mistura de presunção, narcisismo e autocentrismo. 

 Admito, a ideia de poder se conectar com profissionais que atuam na mesma área que você é super legal, demais, parabéns aos criadores. Mas tá todo mundo fazendo tudo errado. Contando coisas que ninguém quer saber – esse não é justamente o propósito do Instagram e do Twitter? Um lugar onde a gente fala sobre o que ninguém quer saber mas, na verdade quer, ou melhor, não quer, mas fica ali sabendo do mesmo jeito? Só que o Linkedin consegue ser pior, porque ali, as pessoas escrevem sobre o que ninguém quer ler, mas da maneira mais pedante e presunçosa do mundo. Seeenhor. Será mesmo que o curso de Google Ads que você fez mudou sua vida? Eu duvido.

O Joãozinho vai lá escrever pra todo mundo que na semana passada ele fez um curso que o permitiu encarar os desafios profissionais de outra forma, que o engrandeceu de maneira ímpar. Um curso que ele deseja que um dia todos tenham a oportunidade de fazer. Não, não, um curso que todos – deveriam – fazer. 

Ai meu Deus, eu preciso desse curso. Que curso é esse, senhor? Ein, que curso que é, João? Um curso de Pacote Office. UM CURSO DE PACOTE OFFICE! Ahh, vai caçar sua turma. Você veio aqui fazer um textão sobre um curso de Pacote Office? Sério mesmo? Esse é o Linkedin, minha gente. Um lugar onde as pessoas escrevem sobre um curso de Pacote Office como se tivessem acabado de resolver o problema da fome no mundo.

Outro dia mesmo, eu vi um texto que começava da seguinte maneira “tudo que fui, não só fui, mas também sou” e terminava assim “tudo que serei é também o que sou. E, por isso, tenho a certeza de que estarei sempre no lugar certo e na hora certa”. Eu pensei “caramba, esse cara aqui descobriu a cura do câncer, nossa que demais”. Aí eu fui ver, ele estava me contando sobre a caminhada dele no marketing digital de uma empresa de energia. 

Primeiro que eu não sou obrigada a aceitar que uma pessoa de classe média de 25 anos caminhou tanto assim ao ponto de estar escrevendo sobre isso. Segundo que eu super respeito a carreira e o trabalho de cada um, mas qual foi a do discurso estilo Prêmio Nobel da Paz? Tudo que fui sou, tudo que sou serei, tudo que sou fui serei sou sei lá o que. Vai com calma, marketing é legal, mas para de me enganar, porque eu realmente achei que você tinha curado o câncer da vizinha.

Imagine se uma senhora de 80 anos com os pés duros de caminhar na terra seca e a mão calejada da costura, que comeu o pão que o diabo amassou, que trabalhava 15 horas por dia e mesmo assim conseguiu criar uma linda família de cinco filhos e doze netos, tivesse a “””oportunidade””” de ler o Linkedin e visse o nível de presunção e auto importância que a maioria dos jovens se dá hoje em dia. Chega a ser uma falta de respeito. 

Eu sei que você, alecrim dourado, assim como eu, cresceu ouvindo de seus pais que você é brilhante, que não importa o que você faça, você sempre será merecedor do sucesso e que isso te fez criar narrativas que confirmem essa ideia, ainda que ela não seja verdade, que isso te fez contar no Linkedin tudo que acontece na sua vida como se fosse uma grande epifania. Mas esses eram seus pais, sabe? Que aplaudiam o desenho de pauzinho que você fazia pra escola e a pintura de mão que você fazia na colônia de férias – isso mesmo, aquela que você molha a mão de tinta pra depois colocar sobre o papel. Eu não sou obrigada a fazer o mesmo e nem quero que você faça o mesmo por mim. 

Então fica combinado assim ó: da próxima vez que você ou eu fizermos um discurso como se tivéssemos encontrado a solução para a paz mundial, vai ser quando realmente estivermos recebendo o Prêmio Nobel por isso, tá bem? Então quando você terminar seu curso de Excel avançado, não escreva sobre isso não, não fala que mudou sua vida, só atualiza o currículo e bola pra frente porque a cura do câncer ainda precisa ser descoberta e o problema da fome no mundo ainda precisa ser resolvido. E por gentileza, pare de usar o termo “disruptivo” porque a única coisa que você vai conseguir com isso é causar a disrupção do último fio de paciência de quem tá ali procurando emprego.

Gostou da crônica? Leia também Capitão Girodono e “A Grande Tragédia” e “Mentiras cordiais”.

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