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A geopolítica das vacinas e os fracassos do governo

Na corrida pela vacina, o governo brasileiro continua a ficar para trás. A Índia encaminhou na semana passada, após diversos apelos ansiosos do governo brasileiro, dois milhões de vacinas AstraZeneca produzidas no país asiático. A China, de acordo com o pronunciamento de Bolsonaro, deve liberar nesta semana os insumos necessários para a produção de vacina no Brasil pelo Instituto Butantan pela Fiocruz. Contudo, a campanha de vacinação brasileira ainda continua dependente de uma política-externa errática e de um Ministro das Relações Exteriores delirante para continuar de pé.

Em relação à Índia, as vacinas não chegaram no tempo exigido pelo governo brasileiro em função de uma importante questão estratégica para o governo indiano e de uma falta de pragmatismo por parte do governo brasileiro. Bolsonaro e Ernesto Araújo, que compartilham de uma visão conservadora e nacionalista das relações internacionais com o Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi, consideraram que teriam seu pedido atendido com prioridade pelo governo indiano.

Contudo, a afinidade ideológica entre o governo indiano e o governo brasileiro – ambos exibem um histórico de desrespeito às normas democráticas e à imprensa livre – não prevaleceu no cálculo de Modi. O chefe de Estado indiano priorizou o envio das vacinas para seus vizinhos regionais, que estão sob sua zona de influência. As vacinas da AstraZeneca só chegaram ao Brasil no dia 22 de janeiro, uma semana depois de um avião da Azul ficar parado em Recife esperando o sinal para ir buscar as vacinas na Índia. 

Em relação a liberação dos insumos por parte da China, o constrangimento foi ainda maior. A campanha de imunização brasileira depende hoje de um país que foi constantemente difamado pelo governo, pelos filhos do presidente e pelo Ministro das Relações Exteriores. A narrativa anti-China  que o governo adotou em função de razões ideológicas, de um alinhamento automático com o ex-presidente Donald Trump e da crença em teorias da conspiração sobre um “projeto comunista global”, prejudica hoje o combate à pandemia no Brasil. 

A simples saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores, provavelmente não resolverá o mal-estar com a China, mas seria um primeiro passo essencial. A geopolítica da vacina evidencia os danos que uma diplomacia desastrosa pode causar a um país que se tornou o pária das relações internacionais. 

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