Brasil: uma ameaça global
O Brasil vem se isolando do resto do mundo desde o início do atual governo. É verdade, existem exceções, como a proximidade com o ex-presidente estadunidense, Donald Trump; com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán e com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu – todos líderes de mentalidade autoritária.
Desde de 2019 a diplomacia brasileira vem sendo pautada pelo “antiglobalismo” – doutrina evidenciada pela reticência à cooperação internacional multilateral e, especialmente, aos fóruns de decisão e organizações multilaterais, como a Oorganização Mundial da Saúde. Essa doutrina, que foi em larga medida importada dos Estado Unidos de Trump, coloca o Brasil em posição ainda mais vulnerável diante de um dos momentos mais delicados da pandemia.
Donald Trump, o maior expoente da doutrina, já não é mais presidente dos EUA e seu opositor e sucessor, Joe Biden, é um grande entusiasta da cooperação multilateral. Somado a isso, o Brasil vive o caos na saúde pública, com o número de casos da covid-19 batendo recordes diários e novas variantes do vírus se espalhando pelo território nacional.
Contudo, por mais que a situação seja profundamente dolorosa para brasileiros, ela também é uma preocupação mundial. Por um lado, os países que estão conseguindo vacinar sua população em maior velocidade e começam a reabrir suas economias não querem correr o risco de terem de lidar com uma nova variante mais resistente à vacina, capaz de arruinar os meses de lockdown realizados para conter o vírus. Por outro, países pobres, que não possuem sistemas de saúde pública adequados ou acesso às vacinas, simplesmente não podem se dar o luxo.
O problema brasileiro é um problema global. No entanto, o país nunca teve uma política-externa menos disposta à cooperação a nível mundial do que a atual. O Brasil, que possui uma diplomacia de grande tradição em cooperação e diálogo e que dirigiu iniciativas importantes de integração regional, hoje não é somente um pária, mas uma ameaça global. A condução abominável da pandemia e a reticência do governo em reconhecer e corrigir seus erros faz com que o Brasil se exclua, e seja excluído, de tomadas de decisão e iniciativas de cooperação que dizem respeito à saúde de sua própria população.